Facções transformam região de Irecê em território de mortes e disputa por rotas
Fotos: redes sociaisA guerra entre facções explodiu de vez na região de Irecê, no Sertão baiano. Mortes em sequência, ataques coordenados e homens encapuzados circulando armados acenderam o alerta entre moradores e forças de segurança. Somente no sábado (25/10), dois homicídios e uma tentativa de execução foram registrados em três cidades diferentes: São Gabriel, Barro Alto e Irecê — todas com o mesmo padrão de atuação: criminosos vestidos de preto, usando balaclavas e fugindo sem deixar pistas.
Moradores fizeram relatos ao Informe Baiano sobre a violência desenfreada e informações apuradas através de fontes policiais revelam que o conflito é resultado da disputa territorial entre o Bonde do Maluco (BDM) — facção que domina a principal rota terrestre — e o Comando Vermelho (CV), que tenta assumir áreas estratégicas e controlar o fluxo do crime organizado no Sertão.
No povoado da zona rural de São Gabriel, criminosos invadiram uma casa no fim da tarde e executaram Vinícius Freire de Souza, 25 anos, na frente da esposa. Poucas horas depois, em Barro Alto, o mesmo método se repetiu: Uemerson de Souza Rocha, 24 anos, foi morto na presença da companheira, após ser rendido por uma dupla encapuzada que fugiu de moto. Na cidade de Irecê, um homem foi baleado dentro de um bar e sobreviveu.
BERÇO DO BDM
A região não é um território qualquer. Foi ali, no município de Cafarnaum, que nasceu o BDM, facção fundada por Zé de Lessa, morto em confronto anos depois. De Cafarnaum também saíram nomes que marcaram o cenário criminoso baiano, como “Paulo Escopeta” e “Xerife”. Na época, o local ficou conhecido como um dos maiores polos do chamado “Novo Cangaço”, com criminosos especializados em explosões de bancos.
Hoje, o cenário mudou, mas a rota continua valiosa — e disputada. Na prática, a divisão territorial funciona assim: BDM domina a Estrada do Feijão (BA-052), principal corredor de circulação no Sertão e CV atua pelo Rio São Francisco, especialmente nas cidades de Xique-xique e Barra, rota fluvial estratégica para tráfico e logística.
O problema cresceu quando o CV passou a tentar avançar por terra, colidindo diretamente com os interesses do BDM. O motivo é simples: quem controla a rota controla o fluxo de armas, drogas, dinheiro e pessoas. Com isso, vieram as mortes.
O ENIGMA DOS ESTRANHOS, DOS CARROS E DOS POSTOS
Moradores relatam a presença crescente de pessoas recém-chegadas, que se dizem “investidores” ou “traders”, sempre circulando a bordo dos mesmos modelos de veículos: Corolla, Civic e HB20. Há quem acredite que seja coincidência. Outros, não.
Outro fato chama atenção: a multiplicação de postos de combustíveis lado a lado em trechos da Estrada do Feijão e até mesmo em zonas rurais. Há pontos com estabelecimentos a menos de 50 metros um do outro — algo completamente fora da lógica comercial comum. Para policiais ouvidos sob reserva, os locais podem estar ligados à lavagem de dinheiro, mas ninguém admite oficialmente.
A sensação nas cidades é de abandono. Moradores relatam:
raríssimas blitzes na BA-052
queda na fiscalização do Rio São Francisco e avanço das facções em áreas rurais.
Há quatro anos, o Rio tinha intensa fiscalização da Marinha. Hoje, segundo relatos, não há praticamente nenhuma presença constante. Enquanto isso, o sangue volta a correr.
Sob reserva, um policial que atua em um setor de inteligência, disse que o que está acontecendo na região de Irecê não é caso isolado, não é evento pontual e não é “acerto episódico”. É guerra por território. “O Estado corre sério risco de perder o controle se não agir imediatamente e de forma integrada. Se nada mudar, a pergunta deixará de ser ‘quem matou?’ e passará a ser ‘quem vai mandar?’. Fica o alerta”, concluiu.
Facções transformam região de Irecê em território de mortes e disputa por rotas
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segunda-feira, outubro 27, 2025
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